RAMIRO MUSOTTO - INTRODUÇÃO




A Bahia gerou e exportou para o mundo inúmeros percussionistas virtuosos, que enriquecem o conteúdo e a rítmica dos mais diversificados estilos musicais. As nascentes, foram quase sempre os terreiros de candomblé, a música de rua, os blocos carnavalescos.
Mas a Bahia também importou talentos, atraindo dos seus territórios de origem criadores das mais diversas áreas culturais, adotados e reverenciados pela terra. Um deles, tornou-se mundialmente conhecido como um dos maiores 'percussionistas baianos'. O músico Ramiro Musotto nasceu na Argentina e morreu na Bahia, após 25 bem vividos anos, nos quais desenvolveu uma trajetória de aprendizado e de ensino dos segredos mais caros da rítmica e da percussão afro-brasileira, entregando-se de corpo e alma a viver e partilhar da musicalidade e da herança das culturas que formaram nosso tecido rítmico-percussivo.
Ele teve o privilégio de viver na Bahia no exato momento em que se dá a grande virada do mercado fonográfico, desencadeada a partir  do salto tecnológico alcançado pelos técnicos de gravação em Salvador, ao desenvolver e aprimorar as tecnologias de captação do som dos tambores dos blocos afro, como também através da própria evolução dos fenômenos criativos representados pelo surgimento do rítmo do samba-reggae e da chamada axé-music. Ramiro participa intensamente desse processo, agregando a novidade dos samplers, das máquinas de rítmo e dos programas de computador, contribuindo para o irreversível sucesso  que se tornou, a partir de então, a produção musical baiana.



Como resultado da sua incansável procura por uma sonoridade perfeita, por uma diversidade maior de timbres e afinações, e para tornar ainda mais universal o instrumento-símbolo da cultura e da música de rua da Bahia, - o berimbau, deixou-nos como legado o aperfeiçoamento técnico-acústico-construtivo desse instrumento, cujo realizador material seria o engenheiro amigo de infância, também argentino e também adotado pela cidade de Salvador: Luis Maria Arcodaci. 



Poucos sabem que, por trás das maiores produções fonográficas realizadas no Brasil em três décadas, esteve a genialidade do músico, que se tornou universal. Um dos mais concorridos músicos de estúdio e de turnês, fosse como percussionista, programador de rítmo, arranjador ou mesmo produtor, não se limitou a nenhum espaço geográfico e a nenhum estilo musical e manteve sempre a atitude de escutar e de aprender, assim como a de transmitir os conhecimentos que tão bem assimilou e sistematizou, como provam os seus escritos teóricos e didáticos, ainda inéditos, sobre o berimbau e sobre os tambores e toques da música litúrgica afro-brasileira e da música percussiva de rua, manifestações que investigou a fundo.
O segredo do sucesso de Ramiro Musotto? Talento criativo nato, potencializado pela experiência diversificada nos campos acadêmico e popular, conduzido com modéstia e orientado pelas atitudes humanas mais positivas: sempre otimista, sempre se aproximando de pessoas talentosas e sempre valorizando e elevando aqueles(as) que o cercaram.

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